segunda-feira, 26 de novembro de 2012

vazio

Hoje sinto a tua falta como num outro dia não senti. Dou por mim a vaguear. Entre planos e devaneios. Entre sonhos e pesadelos. A tua ausência começa a parecer-se como um sentimento que não acaba. Revejo as palavras outra e outra vez. Parecem-me todas saídas de um filme barato. Ou quem sabe de um livro perdido lá por casa. Palavras que não sentes. Antigamente olhavas para o pé direito antes de movimentares o esquerdo. Hoje não queres saber para que lado vais. Desde que isso implique a marcação de postura. Tornou-se o demarcar de um espaço do qual pouco conheço. Irónico.  Conheceste todos os meus passos. Ou quem sabe aqueles que quis mostrar. Percebeste-me tão bem. Mas foi apenas o que dei de mim. Contudo esse não foi nem será o meu verdadeiro eu. Porque a falta que me fazes não será a falta que um dia te fiz. E amanhã o vazio será apenas meu. Porque tu terás só o teu.

v'ideias

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

nunca


Nunca um dia me disseste que seria fácil. Nem tão pouco perceptível. São as pausas no meio dos passos. Ou os passos perdidos no meio das pausas. É o desconhecido no interior dos pensamentos. É a instabilidade do medo constante. Ou apenas a instabilidade da incerteza permanente. A pequenez ao falar daquilo que apenas se sente. A falta de interpretação. Eo esquecer de no segundo seguinte ser necessário respirar. Querer escrever. Querer expressar. Embora o fácil se torne difícil. E o lógico se torne impossível de decifrar. Não existem regras. Nem explicações. Os gestos nem sempre respondem. As questões formulam-se ao contrário. A ansiedade aumenta. Os segundos acumulam-se. E tudo parece um tu cá tu lá de estados de espírito porque nunca ninguém me disse que seria fácil perceber o coração.

V'ideias

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

(eu)

Nem tudo corre ao sabor daquilo que nós queremos. Daquilo que nós pensámos. As cores perdem vida. O sol queima e o vento sopra constantemente. Ao longe reconheço as sombras que tendem em permanecer. Ao perto percebo todos os traços que as complementam. Não sinto nada. Não quero sentir. Finjo que tudo me parece normal. Tento que nada me destrua. Os outros e eu. Eu e os outros. Cada vez sinto mais a tua falta. E a saudade do que fui. Do que sou. Ou do que nunca serei. Irónico. Este cansaço de tudo. Esta falta do eu.

V'ideias

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

divagar

Sem saber deu por ela a divagar entre pensamentos e realidades. Entre sonhos e ilusões. Recordava aquilo que sempre quis viver. Rabiscava aquilo que nunca quis esquecer. Ela. Ali sentada. Naquele banco de pedra onde todos os turistas um dia tiraram uma fotografia de recordação. Sentia a vontade de querer viver aquilo que a faz sorrir. De poder dizer o que lhe percorre o corpo e a faz sonhar. E embora saiba que nada poderá sair daquelas quatro paredes que cria todos os dias para não se magoar. Por momentos deixou que lhe saísse da boca meia dúzia de palavras em tom de sussurro. Balbuciou assim coisas que nem ao vento imaginou transmitir. Deixou-se levar pela euforia da brisa do mar. E deixou que toda a envolvência a fizesse demonstrar que apenas te queria junto de mim.

V'ideias

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

falta

A tua maneira de andar. O jeito de ser. A tua voz. E a forma como me falas. Aquilo que escreves. Aquilo que não dizes. O que sentes. O que não me deixas saber. O que escondes. Ou o que me contas. Quando me abraças. Quando as nossas mãos se tocam por breves instantes. Quando nos deixamos estar. Quando por momentos o olhar congela numa única posição. E aí parece que falamos. Mas nem sempre falamos. Por vezes não dizemos nada. Não sei se porque não é preciso. Não sei se porque não temos nada para dizer. Mas sei que mesmo quando não oiço a tua voz as nossas conversas nunca ficam por acontecer. Talvez porque me percebes. Talvez porque te conheço. Porém. Tudo se torna irreal quando queremos transmitir aquilo que não conseguimos expressar. E hoje percebo a falta que me fazes. Não pelo que tivemos. Mas sim por aquilo que ainda temos.

V'ideias

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

seguiu

Deu consigo a rasgar envelopes por abrir. Envelopes que escondem em si aquilo que os caracteriza. Algo que ficará guargado apenas em quem um dia os enviou. Pegou na mala e saiu. Trancou a porta. Mas deixou as janelas abertas. Acendeu as luzes. Mas deixou os estores a meio. Não estava em casa. Mas ninguém precisava de saber. Não estava bem. No entanto, não o queria dizer. Atravessou a rua entre os carros. Não olhou para lado nenhum. Teve sorte. O sinal estava verde. Desceu as escadas ao final da rua. Correu até apanhar o autocarro. Sentou-se no último lugar e ficou colada ao vidro. Aquele vidro que estava sujo. Aquele vidro a que todas as pessoas um dia se encostaram. Nem se lembrou. Nem se quis lembrar. Tudo lhe passava pela cabeça. Pensamentos bons. Pensamentos menos bons. Aqueles que a fizeram chorar. E ainda aqueles que a fizeram sorrir. O autocarro parou e ela saiu. Não escolheu a paragem. Simplesmente saiu. Não conheceu o cheiro. Não viu pessoas. Seguiu em frente. Parou. Respirou fundo. Viu o mar. Avistou a outra margem. E percebeu que onde quer que tivesse ido parar, nada seria mais importante do que estar consigo mesma.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

degrau

Sentou-se naquele mesmo degrau, uma outra vez. Com a esperança e a vontade de se encontrar. Imaginou o que faria se o hoje fosse outro dia. Recordou todas as vezes que por ali passou. E todos aqueles que nunca ficaram. Sente-se incapaz de dizer o que quer que seja. Apenas com vontade de dizer. Mas as palavras ficaram em compasso de espera. O dia-a-dia em contratempo. E ela no mesmo lugar.


V'ideias