quarta-feira, 23 de outubro de 2013

dúvidas

A incerteza de que fará sentido deixa-me com vontade de especular sobre aquilo que eu própria desconheço. No entanto, talvez seja esse o propósito. Tornar a ler cada uma das páginas mas desta vez de pernas para o ar. Começar pelo fim. Recear as dúvidas. Concluir a meio. E deixar arrumado aquilo a que chamamos de começo. Parece até inconveniente começar pelo que seria suposto ser um desfecho. Porém, nem sempre as certezas surgem no fim da narração. Passos que chegam. Passos que vão. A constante dinâmica que nos é ostentada a cada duas acções que tomamos por nos parecerem correctas. Se o são só o destino o dirá. Se o destino existe? Quem sabe. Reconheço que perdemos horas e horas a correr de um lado para o outro na ilusão de que o destino saberá para onde nos guiar. Embora acredite que por vezes é o próprio quem nos troca as voltas e nos faz pensar que andar em linha recta de interessante nada tem. E no meio de tudo isto pergunto-me se existem dúvidas. Na realidade nunca saberei não as ter. Mas hoje percebo que as dúvidas de ontem não serão mais as dúvidas de amanhã. E que nem sempre se manifesta assim tão longe aquilo que nos parece tão distante.

v'ideias

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

repetição

O toque suave entre mãos que mal se sente mas que os arrepia. O esvoaçar dos cabelos que nela fica sempre melhor. A forma desajeitada como lutam contra o remoinho que sentem em seu redor. A areia começa a levantar e riem-se porque mais não há a fazer. Os salpicos que sentem quando de adultos passam a crianças. A vontade de permanecer até o sol dar lugar à lua e o 'bom dia' deixar de fazer sentido. O olhar diante o vazio sem decifrar coisa nenhuma. Até porque ambos são indecifráveis. A barreira que formam quando ao jantar o prato lhes parece ser o único ponto lógico de referência dentro das quatro paredes. E quando as paredes se vão e dão lugar ao espaço em aberto que os recebe, parece que o foco passa a ser a calçada que os persegue até ao destino pretendido. Irónico. A felicidade está tão entranhada que fica apenas dentro de cada um deles. A presença do outro parece-lhes tão platónica que se deixam absorver pelo turbilhão de emoções que vai e vem ao sabor do ponteiro dos segundos. A forma como cada um se movimenta é tão própria que se torna fácil a descrição. E quando vislumbram o desenho que o outro rabiscou percebem que são tantas as convicções como as fragilidades. E então voltam a cruzar o olhar. Sentem que estão vivos e que tudo não passa de uma repetição. 

v'ideias


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

beijo

Seguido de uma passada em tom de corrida. Foi um beijo roubado que ditou um fim. Foi um beijo que, por breves instantes, (re)desenhou o passado. As brincadeiras de criança. As cartas da adolescência. A sensação de esconder o que só a nós nos pertence. Hoje, não senti borboletas na barriga nem o coração bater mais depressa. O chão não saiu debaixo dos meus pés e tu não me pareceste o príncipe encantado. No ar ficou apenas a sensação de desapego e o sentimento de uma história que embora bonita, não passará de mais uma história. Porque as saudades deste beijo roubado apenas ficarão contigo no baú das recordações.

v'ideias

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

meia conversa



É por tudo aquilo que não declaramos que ficamos por meias palavras. É por toda a ansiedade de guardar que deixamos de sentir. São todos esses gestos irreflectidos. Essa postura desarranjada e esse ar de quem não entende. É por todos os momentos que perdemos no vai e vem da brincadeira. É por toda a falta de ousadia que nos escapa a cada dois segundos. Quiçá não seja porque assim tem de ser. Talvez nos falhe a vontade de querer. 

v'ideias

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

abraço


Ouviu o som da porta fechar. Encostou-se ao corrimão e deixou-se cair até o frio do chão se entranhar. Embora tenha sentido um sufoco por mais uma vez ter deixado perdida a vontade de continuar, respirou de alívio por finalmente ter chegado. Aquele constante turbilhão de vai e vens, sem conseguir meter os pés no chão. Aquela vontade de despejar todas as palavras que permanecem dia após dia. Nunca foi de grandes emoções e sente-se a fugir naturalmente como quem não quer da coisa. Em si sentiu o cheiro de alguém que em nada lhe pertence. Embora, por vezes, sinta que já faz parte. Nos braços a ânsia de querer. E o abraço que por mais apertado que seja se desvanece no vazio dos sonhos. Porque mesmo que a vontade exista o abraço fica por dizer. A saudade dos últimos cinco minutos que lhe passaram pela mente. Assim como as lágrimas de raiva sem resposta. Numa fracção de segundos pensou que não valeria a pena. Porém, o coração fala sempre mais alto. A consciência sente-se na sombra constante que lhe percorre todos os caminhos. E a inconsciência desliza entre as pequenas linhas que sem saber vai traçando.

V'ideias