segunda-feira, 6 de junho de 2011

ilusão

Ao som de uma guitarra revejo-me em ti. Nas tuas expressões. Nas tuas ideologias. Na tua forma de mexer os lábios. De mexer o cabelo. No modo como balanceias o corpo quando te movimentas de um lado para o outro da sala. Descubro por entre o teu crescimento a sabedoria que te caracteriza. Conheço-te os gestos. Percebo-te a voz. Escondes bem demais aquilo que não queres espalhar aos quatro ventos. Finges que sabes. Que conheces. Que consegues chegar àquilo que percorre dentro de mim. Vives na ilusão de me conhecer. De saber o que sinto. O que faço. Como faço. De que forma ignoro aqueles que me estipulam barreiras. Barreiras que quebro. Barreiras que esqueço. Tu, tal como tudo o que me preenche, não passas de um espaço em aberto. Um tiro no escuro. Um refúgio quando tudo está bem. Uma saída quando tudo está mal. Mas no fim de contas percebo que não existes. Que não eras mais do que uma ilusão criada nesta mente que flutua por entre pássaros livres neste mundo que é só meu. E quem sabe, só teu.




V'ideias

sexta-feira, 3 de junho de 2011

viagem

Palavras ditas na desdita, com sentimento ou fingidas. Palavras soltas. Ideias perdidas. Acontecimentos futuros passados no passado. Pessoas desconhecidas no entretanto. Quando a viagem começa com um ponto. Quando a vírgula deixa de fazer sentido. Quando as pessoas são as pessoas quando o querem ser. E o íntimo perde-se quando se quer perder. Nem sempre se diz o que nos vai na alma. As letras deixam-se cair entre palavras de pensamentos esquecidos. Não voltes atrás. Mas não te percas na volta do mundo. E então ouve-se o tic-tac do relógio. Observa-se o girar dos ponteiros. Surge um bilhete na mão. O comboio chega e as pessoas reagem. Vem de longe. Vai para ainda mais longe. Sem destino certo. Um percurso inserto. Malas e bagagens acompanham todo o movimento desenfreado daqueles que depressa se movimentam em torno de uma linha sem fim. O chapéu voa e a carta fica caída no chão. As lágrimas caiem. Amigos abraçam-se. Namorados despedem-se. O comboio parte e para trás fica tudo aquilo que sempre construiu uma história. As pessoas percorrem as carruagens de uma ponta à outra como se conhecessem toda a gente. Como se aquele fosse um espaço de lazer. O sol põe-se e acendem-se as luzes. A paisagem lá fora parece igual a cada dois segundos. O vidro espelha o ar cansado. Os olhos sentidos. A vontade de voltar a casa e ficar. E ao mesmo tempo o coração estilhaçado, na esperança de um dia retomar. Existe uma ânsia de chegar ao destino, mesmo quando se trata de um lugar incerto. As expectativas estão cada vez mais altas. Os sonhos perdem-se em torno de um comboio que oscila ao sabor do vento. Entre vozes, barulhos, passos e sussurrares de crianças, os olhos fecham-se e tudo parece mudar. Naquele lugar repleto de desconhecidos e invadido de memórias. O relógio parou. O tempo não volta. As horas perdidas despedaçaram-se pelo caminho. Fazem-se sentir as saudades daqueles que um dia nos preencheram. A viagem começou no dia em que tudo mudou e nada pode ficar no mesmo lugar. E tudo porque o destino foi traçado uma outra vez.





V'ideias